Duas questões centrais são recorrentes nos questionamentos da população e da imprensa, recebidos pelo SetraBH: o número de ônibus disponibilizados para os usuários e o tempo gasto nos deslocamentos.
Dentro da proposta do Sindicato de estimular um amplo debate público sobre os muitos gargalos do setor, apresentando alternativas e soluções viáveis para os problemas, os temas “veículos em circulação” e “tempo das viagens” são, de fato, centrais. Mas para mantermos a qualidade do debate é fundamental esclarecer pontos muitas vezes desconhecidos da opinião pública. Um deles diz respeito à correlação existente entre o número de viagens e a quantidade de usuários do sistema.
Tendo em vista que o contrato atual determina que apenas os usuários pagantes respondem por 100% da receita do transporte público por ônibus, pode-se compreender que quanto mais se reduz o número de passageiros, menores serão os recursos para manutenção do sistema, e por consequência, a quantidade de veículos disponíveis.
Para reforçar e facilitar o entendimento sobre o alerta feito pelo SetraBH, o gráfico a acima demonstra que o sistema de transporte já vinha registrando significativas quedas no quantitativo de passageiros transportados e pagantes. Considerando os dados de 2014 a 2019, anos de pré-pandemia, é possível verificar uma redução de 21% no número de passageiros transportados e de 30% de passageiros pagantes, o que impactou diretamente na receita do sistema.
Em 2019 foram transportados 353 milhões de passageiros, uma redução de 96 milhões de passageiros em relação ao ano de 2014. Em 2020, a situação piorou de forma drástica. O sistema transportou 192 milhões de passageiros, queda acentuada de 45% em relação a 2019. A pandemia já dura 17 meses e as empresas vêm ofertando, durante esse período, mais viagens que a demanda de passageiros, ou seja, operando com prejuízos.
Um exemplo atual mostra que hoje temos 18.207 viagens por dia, para uma média de 750.000 passageiros diários, o que dá uma média de 41 passageiros por viagem. Antes da pandemia, tínhamos 24.500 viagens por dia, para uma média de 1.208.000 passageiros transportados diariamente, o que dava uma média de 49 passageiros por viagem.
Lembrando que todo o recurso do sistema vem dos usuários pagantes, logo a existência de viagens é diretamente proporcional à existência de recursos no sistema.
Mesmo com as quedas bruscas e frequentes no número de passageiros nos últimos anos, é importante registrar, para informação dos usuários, que em janeiro deste ano, mesmo com o aumento dos casos de Covid no Estado e a consequente redução no número de usuários, o SetraBH disponibiliza diariamente 85% da frota de 2.400 ônibus.
Tempo de deslocamento e mobilidade urbana
Outro ponto central, e que merece toda a atenção do poder público, é a falta de planejamento relacionado à mobilidade urbana. É comum recebermos críticas, legítimas e corretas, sobre o tempo gasto nos deslocamentos dos ônibus, principalmente nos horários de pico. No entanto, para que o debate sobre esse problema tenha a atenção e a qualidade que merece, é fundamental não esquecermos que o transporte público por ônibus é um dos elementos inseridos no contexto geral do transporte público de uma cidade. Ou seja, para reduzir o tempo de deslocamento, seja o transporte público ou particular, é necessário que haja intervenções nas principais vias de acesso da capital.
Não vemos, por parte da BHTrans, nenhuma iniciativa ou regra sobre limitação de fluxo de veículos particulares, nos horários de pico, nas vias utilizadas pelo transporte público. Faixas exclusivas para ônibus também são iniciativas simples e que certamente fariam com que os passageiros fossem transportados com mais rapidez, ficando menos tempo dentro dos veículos.
Como já demonstrado acima, não existe falta de ônibus em Belo Horizonte. Também não se resolve o problema do fluxo lento aumentando o número de veículos nas ruas. Alternativas existem e cabe ao poder público sentar-se à mesa para iniciar um planejamento sério que resolva também esse gargalo no setor.