Publicado no Anexo 6
Sérgio Botêlho – Nosso tema de hoje tem a ver com uma situação explosiva que está em pleno crescimento a partir do transporte coletivo urbano brasileiro
O drama é do tamanho de milhões de pessoas transportadas para o trabalho, para as compras, para as aulas ou para um deslocamento qualquer, diariamente, nas cidades do país.
Neste momento, há greves em curso no setor, em várias cidades de todas as regiões brasileiras. Uma delas está se desenrolando em Belo Horizonte, presentemente, com uma suspensão até a próxima quinta-feira. Os envolvidos, prefeitura, empresários e trabalhadores, buscam solução negociada.
E podem até encontrar, mas será momentânea, pois a tração que move a greve é o preço do combustível e a ausência de aumento nas tarifas, em geral, já por um bom tempo, no Brasil inteiro. Num mesmo lado, portanto, empresários e trabalhadores, mais ligados pelo prejuízo mais direto, uns com redução de lucros, e até rombos financeiros, e outros com perdas salariais.
Mas, no mesmo barco também se encontram os gestores públicos municipais como partes da problemática, uma vez que são responsáveis pelo serviço à população, e, por consequência, pelo mau funcionamento do sistema; sendo que, posto isso, as paralisações lhes trazem prejuízos políticos evidentes, com maior atenção, agora, às vésperas da campanha eleitoral do próximo ano.
Dessa maneira é que, reunida semana passada, a Frente Nacional de Prefeitos elaborou uma carta sobre o assunto, e a entregou ao presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira.
No documento, alertam para o ‘iminente colapso’ dos serviços de transporte público urbano e invocam o preço do diesel. Ao problema, juntam a redução do número de passageiros nos transportes coletivos durante a pandemia, e ao final pedem ‘uma articulação federativa’ para construir alternativas para o setor.
Como saída imediata eles indicam a desoneração de impostos no preço do diesel e o andamento de uma proposta visando financiar a gratuidade dos idosos que, segundo anuncia matéria no Painel da Folha de São Paulo, está no Ministério da Economia. O grande problema – argumentam os prefeitos – está no subfinanciamento do sistema.
Na ausência do socorro institucional público, não se vislumbra outra saída senão a do aumento de tarifas, com toda a carga explosiva que acompanha uma medida, assim, na forma de naturais e fundamentadas resistências da população. Afinal, quem não se lembra dos movimentos de 2013 que começaram justamente por conta de aumento de passagens urbanas.
Em entrevista ao Valor Econômico, o prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira, que preside a Frente Nacional de Prefeitos, disse que não existe, ainda, uma estimativa de quanto deveria ser o aumento nas tarifas de ônibus, se não houver ajuda do governo federal. Contudo, arrisca algo em torno de 11%, para recompor a inflação.
Atente-se que é bem mais do que o amento de 0,20 centavos que provocou toda aquela revolta nacional nos idos de 2013. Apesar disso, os sinais que vêm do Palácio do Planalto, por enquanto, não são muito favoráveis à ajuda federal, lembrando que o presidente vetou auxílio ao setor em meio à pandemia, mesmo após ser aprovado pelo Congresso Nacional.
A importância social e econômica do transporte coletivo, especialmente nos países mais pobres, como o Brasil, é evidente. Daí que as questões decorrentes do setor precisam ser encaradas como de todos. Então, claramente: sem que haja essa união entre poder público, setor empresarial, trabalhadores e população não há solução possível, não apenas a curto, mas certamente a médio e a longo prazos. Com efeitos seguramente desastrosos.
https://anexo6.com/transporte-coletivo-urbano/